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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Uma vitrine

Desci do tróleibus e em frente ao ponto uma loja, uma vitrine. Manequins e uma moça, provavelmente arrumando a vitrine,vestindo manequins. Manequins bem vestidos, roupas da moda, a moça não. O sempre olhar indiferente dos manequins contrastava com o, talvez, um olhar triste dela. Não podia com seu trabalho vestir-se como aqueles manequins, foi minha leitura. Manequins bem vestidos, e uma jovem mal vestida vestindo-os. Seus sonhos deviam estar longe, bem longe dali, onde não realizava nem a possibilidade de uma roupa nova.
O contraste da vida e da imobilidade. Uma imobilidade rica e uma vida pobre.A liberdade de escolha muitas vezes é engodo. Nem sempre se escolhe, muitas vezes, somos colhidos por escolhas não feitas. Mas os manequins, com certeza, jamais sairão da riqueza de suas roupas, na prisão da vitrine...mas a moça sim, pode sair da vitrine, daquela falta de roupas novas e do excesso de contato com o inanimado. Volta a questão da escolha...
Liberdade e segurança...são excludentes. Se temos uma perdemos a outra.
A vitrine é sua. A vida também.
Andei um pouco mais na direção de casa e lembrei do que disse Orlando Villas Boas à Darcy Ribeiro:
- Um índigena não carrega durante a sua vida inteira mais do que 20 objetos...
Coisa de povo atrasado...que hoje, sabemos, entende muito de sustentabilidade...vem a pergunta:
Precisamos mesmo desse mundo do consumo exagerado? Se lembrarmos não muito longe, nossos pais e avós estavam mais próximos do conceito de consumo controlado do que nós hoje.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Todos têm que ir...

Desses encontros rotineiros e que passam despercebidos...
Sentada no metrô, o cara ao meu lado se levanta e vai rumo à sua vida, logo em seguida uma nova pessoa senta ao meu lado, ainda quentinho pelas nádegas de outra pessoa.
Assim que a mesma acaba de sentar eu viro a cabeça, para averiguar quem seria o novo ser vivo que me acompanharia por mais um curto tempo, no nosso tempo, onde a vida lá em baixo passa rápido...
Uma moça, loira.
Engraçado que a tal loira ao se ajeitar no acento fez o mesmo que eu. Viramos os olhares para frente e logo em seguida, como bailarinas sincronizadas, como se estivesse tudo perfeitamente combinado, coçamos nossos narizes de rinite paulistana.
Nesse curto momento, coisa de segundos, nos cumprimentamos sem nos cumprimentar.
Ficou mais 5 minutos e se foi.
Todos Vão.
...E para ir, não há necessária direção,mas intenção de ir. Coisa que a tal da depressão atualizada faz: paraliza,não permite a ida. Por isso a luta, por isso ir é preciso. Ir é verbo da coragem. Voltar, da saudade. 
Mas todos vão...